Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores

Ao retornar ao nível (próximo) de 116 milhões de trabalhadores empregados no setor privado, a economia americana finalmente retorna ao ponto que havia atingido, pela última vez, em janeiro de 2008, há exatos 73 meses atrás. Medida por essa estatística de emprego no setor privado (no setor público, o emprego ainda está 2,4% abaixo da marca de 2008) a atual recessão é, de longe, a mais profunda e prolongada do pós-guerra. Nela os homens sofreram mais do que as mulheres, pois ainda estão 1,4% abaixo do número de postos de trabalho ao início de 2008, enquanto as mulheres americanas ficam 1,4% acima daquela marca. No auge do desemprego, a força de trabalho no setor privado chegou a cair 7,6% sobre o máximo atingido em janeiro de 2008, com queda de 9,9% para os homens e apenas 4,9% para as mulheres.

Uma característica ressalta na comparação entre os seis episódios de recessão desde os anos 50: a data de retorno ao ponto de emprego máximo anterior à ultima crise fica cada vez mais distante. Enquanto as recessões, até os anos 80, demoraram cerca de 24 meses para recompor o quadro de trabalhadores empregados, demorou-se 54 meses na recessão de 2000 e, agora, teremos contado mais de 73 meses, nesta crise norte-americana de 2008. Fica claro que a política monetária de injeções maciças de liquidez adotada em 2000 e, muito mais ainda, em 2008, embora tendo amenizado os impactos sociais diretos da recessão sobre a renda, não conseguiu produzir a recuperação de empregos com a velocidade e com a intensidade de retomadas anteriores. Basta ver o que passa nos segmentos da economia americana. Na indústria tradicional (manufatureira) o número de postos de trabalho ainda está 11% inferior ao de 2008. Na construção civil, cerca de 20% abaixo. Em serviços de informação (imprensa e outras mídias) mais de 10% abaixo. Tampouco se atingiu reposição integral de empregos no varejo e nas atividades financeiras. Consultoria de negócios, saúde, mineração e comida fora de casa são os segmentos com dados positivos de emprego. Trata-se, como se afirma tecnicamente, uma "recuperação sem empregos" ("a jobless recovery").

Ed.381