Por Paulo Rabello de Castro, da RC Consultores
Apesar da informação repercutida na imprensa de “ligeira retomada” da indústria brasileira, de 0,7% de avanço de julho passado sobre junho (o mês da Copa...), nada indica tal recuperação pelos dados do IBGE. Pelo contrário, o temor generalizado dos empresários industriais é que o cenário de retração da demanda interna se prolongue ao longo de 2015, pela necessidade evidente de ajustes fortes na gestão macroeconômica do País. As medidas tomadas esta semana pelas principais montadoras de automóveis são reveladoras de tal cenário: lay-offs (dispensas temporárias) de trabalhadores por prazos de cinco a seis meses; pátios cheios, requerendo promoções agressivas de vendas a prazo com entrada e juro zero; e busca de terceiros mercados externos para compensar a queda brusca das vendas tradicionais para a Argentina. A situação de aperto se espalha também para o sensível segmento de bens intermediários (siderurgia, cimento, cerâmica etc., associados à indústria da construção) e, sobretudo, em bens de capital, estes últimos indicando uma baixa propensão a investimentos em futuro próximo.
Na raiz do problema industrial está a questão estrutural da piora da competitividade nacional. O WEF (World Economic Forum) acaba de puxar a posição do Brasil, no ranking de 144 países pesquisados, da 56ª para a 57ª posição em competitividade. O que mais pesou no recuo da posição brasileira em 2014 foi a piora nos itens representativos da eficiência pública (135ª posição), confiança nos políticos (144ª posição) e desperdício de recursos (137ª posição). Estes indicadores foram todos registrados em recente pesquisa nacional do Datafolha, para o Movimento Brasil Eficiente, mostrando que os brasileiros enxergam o mau uso dos recursos arrecadados, excesso de tributos e muita desconfiança nos políticos. Será muito grande, portanto, a responsabilidade do próximo governante, eleito em novembro, de responder de modo incisivo e direto ao enorme desafio de Eficiência na gestão pública e controle da corrupção e desperdício. O cenário da indústria e, de resto, o nível das expectativas dos empresários estarão muito dependentes de sinalizações práticas dos candidatos que, em boa medida, ainda não aconteceram. Por enquanto, o mercado é embalado por pura esperança de uma renovação da política.