Ante um cenário de inflação elevada, juros altos e deterioração acelerada do mercado de trabalho, os consumidores vêm se mostrando cada vez mais cautelosos em suas decisões de consumo, evitando novas dívidas e tentando privilegiar a aquisição de bens e serviços indispensáveis. É sem dúvida, uma conjuntura que ajuda a explicar o atual momento de queda acelerada das vendas do varejo.
Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE divulgada hoje, nos primeiros seis meses de 2015 o comércio acumulou queda de 2,2%, a maior baixa para o período desde 2003, quando registrara redução de 5,7%. 2003 foi o último ano em que o varejo encerrou negativo (-3,7%), e estes mesmos sinais estão sendo observados ao longo de 2015, corroborando com a nossa perspectiva de recuo de 2,0% nas vendas nesse ano.
Este movimento, entretanto, não pode ser considerado uma surpresa, uma vez que o indicador de Movimento do Comércio da Boa Vista SCPC já havia apontado queda de 0,7% para junho, na mesma base de comparação.
A crise do varejo que antes estava concentrada no setor de bens duráveis, a partir deste ano já passa a atingir também os setores ligados às essencialidades (como supermercados e produtos farmacêuticos, por exemplo). Sinais de melhora, no entanto, podem ser esperados para 2016. Conforme apontam os indicadores do relatório “Panorama do Varejo e Crédito” de julho para o setor, há um esforço para reduzir os estoques nas empresas varejistas, embora ainda não haja perspectiva de reversão da queda das vendas ao longo do próximo semestre.
Os varejistas parecem ter compreendido a dimensão e a duração da crise. Além da redução dos estoques, há um empenho pela redução de custos e consequentemente uma busca por maior produtividade, fatores que se mantidos constantes podem garantir a sobrevivência de um maior volume de empresas do setor, iniciando o próximo ano prontas para retornarem a um melhor nível de atividade.