Apesar das adversidades recentes observadas na economia brasileira, um setor especificamente poderá apresentar elevação este ano, o agropecuário. Enquanto em outras áreas os ajustes fiscais, monetários e cambiais debelaram efeitos colaterais – ao menos pelo o que apontam as projeções – o setor primário, majoritariamente exportador, pode beneficiar-se sobretudo da depreciação cambial.
De acordo com o relatório do Departamento Agrícola Americano (USDA) de produção agrícola mundial divulgado ontem, o Brasil deverá reduzir em 4,5% o plantio de grãos (preponderantemente milho, trigo e arroz), totalizando 91,9 milhões de toneladas. A produção de algodão também deve ter retração de 12,5%, com estimativa de 7 milhões de toneladas para este ano. As oleaginosas, principalmente a soja, serão as únicas a apresentarem aumento. Suas estimativas apontam crescimento de 8,2%, com produção total de 97,7 milhões de toneladas.
Os dados batem com os apresentados hoje pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab/IBGE). Em seu relatório, a Conab espera uma produção recorde de 200 milhões de toneladas de grãos. A diferença metodológica entre a Conab e o USDA é que o instituto americano não considera as oleaginosas como grãos em seu relatório.
Apesar dos problemas climáticos nos últimos meses, o volume de chuvas em fevereiro e março foi considerado normal e a colheita de soja possui um excelente desempenho. Essa cultura deverá mostrar um incremento de 9,5% na produção - número próximo ao do relatório americano. Portanto, os dois relatórios apontam um vigoroso crescimento dessa safra, efeito provável da desvalorização cambial. A maior preocupação é que essa expansão seja precedida por uma menor plantação de alimentos da cesta básica. A redução da área plantada de arroz e feijão já é um fato, mesmo sem o impacto da soja, e suas consequências sobre a inflação já podem ser esperadas.