Por Yan Cattani, da área de Indicadores e Estudos Econômicos da Boa Vista SCPC
Os gregos foram às urnas neste último domingo. O partido vencedor, Syriza, conseguiu 150 das 300 cadeiras do Parlamento Helênico, um voto a menos que o necessário para adquirir maioria absoluta. De acordo com as regras eleitorais, caso o governo eleito não atinja este mínimo necessário, o líder do Partido (e futuro primeiro-ministro), Alexis Tsipras, deverá formar sua equipe de governo em até três dias, fato já contornado por meio de uma coalizão de sua legenda com o partido de direita Gregos Independentes.
O Syriza, partido cuja tradução seria “Coalizão da Esquerda Radical”, nada tem de comum com seu novo aliado, exceto a ideologia comum de antiausteridade. Uniram-se em prol unicamente da governabilidade. Isto porque o país vive em recessão econômica desde 2009, beirando à catástrofe social. Atualmente, mais de 30% dos 11 milhões de gregos estão abaixo da linha de pobreza, 25% da população segue desempregada, salários e pensões foram cortados em 30% nos últimos anos, 300 mil residentes vivem sem energia elétrica por falta de pagamento e outros 3 milhões não possuem nenhum tipo de assistência à saúde. Ambiente explicitamente dramático.
Apesar dos planos de resgate adotados pelo FMI e pelo próprio bloco econômico, os efeitos só têm protelado a saída do país para um ambiente econômico estável. No despertar da crise, a dívida pública beirava 129% do PIB, atingindo atualmente patamar próximo de 175%. Mas apesar de sua linhagem radical, a expectativa é de que o novo governo não rompa em definitivo com as políticas de austeridade. O discurso de Alexis Tsipras tem colocado ênfase na discussão de renegociação da dívida, feita de forma “benéfica para ambas as partes”. A Alemanha, no entanto, já alertou que não aceitará continuar resgatando a Grécia se um novo governo abandonar as reformas.
Uma eventual saída (ou expulsão) grega do euro poderá criar precedentes para outros países em dificuldades. É uma situação bastante delicada, equilibrando-se entre o caos completo e a salvação da Zona do Euro. Um momento excepcional, quando a Grécia poderá se tornar um verdadeiro divisor de águas na política europeia e até mesmo mundial.