O Banco Central divulgou hoje seu Relatório de Inflação para o mês de março, com análises e perspectivas para o nível de preços, atividade e crédito.

Entre os destaques estão as revisões (para baixo) das expectativas para a atividade e para o crédito.

Em relação à atividade.

Por conta principalmente dos impactos econômicos decorrentes das medidas restritivas para a contenção do  COVID-19, o PIB de 2020 foi revisado de um crescimento 2,2% divulgado no Relatório anterior em dezembro de 2019 para a estabilidade (0,0%). Ainda contaram para a revisão os resultados abaixo do esperado em indicadores econômicos no final de 2019 e início de 2020. O BC considera que o PIB terá recuo acentuado no segundo trimestre, mas que os últimos dois trimestres devem trazer retorno relevante.

Na ótica da oferta, entre todos os setores só o da agropecuária não foi revisado para baixo, continuando em 2,9%, por conta da melhora nas expectativas para as safras de grãos.

As expectativas para a indústria sofreram forte variação, passando de um crescimento de 2,9% para uma queda de 0,5%, com redução das perspectivas para todas as atividades.

A indústria de transformação deve recuar 1,3% (ante +2,1% do relatório anterior), principalmente pela previsão de queda na demanda por consumos duráveis e de capital.

A desaceleração da economia mundial deve reduzir a demanda por minério de ferro e petróleo, baixando a previsão de crescimento para a indústria extrativa 7,5% para 2,4%,

O setor de construção também teve suas expectativas bem reduzidas, passando de um crescimento esperado no último relatório de 3,0% para uma retração de 0,5%, refletindo a maior cautela das famílias e dos empresários do setor.

No setor de serviços o BC agora espera crescimento de 0% contra 1,7% da última divulgação. Os maiores recuos nas expectativas estão no comércio (de +2,6% para -0,7%) e nos Transportes, armazenagem e correio (de + 1,9% para -1,2%). Outros serviços, que engloba atividades como alojamento, alimentação fora de casa e atividades artísticas também sofre forte revisão (de +2,2% para -1,1%).

Do lado da demanda houve recuo na projeção para o consumo das famílias, de 2,3% para 0,8%, repercutindo impactos esperados das medidas restritivas sobre o comportamento dos consumidores, maior cautela das famílias em relação aos gastos e efeitos sobre o mercado de trabalho e a confiança.

Os investimentos devem ser altamente impactados com o ambiente de maior incerteza e com o recuo da atividade. Assim, a previsão para o desempenho anual da formação bruta de capital fixo (FBCF) recuou de 4,1% para -1,1%.

A projeção para o consumo do governo permaneceu praticamente inalterada (passou de 0,3% para 0,2%).

As exportações e as importações de bens e serviços, em 2020, devem variar, na ordem, 0,9% e 0,6%, ante projeções respectivas de 2,5% e 3,8% apresentadas no RI anterior. A redução nas exportações resulta da expectativa de menor demanda externa com a desaceleração mundial a diminuição na estimativa para as importações reflete a expectativa de redução nas projeções de crescimento da atividade doméstica, bem como a perspectiva de redução do consumo das famílias.

O quadro abaixo resume as projeções.

Var %
  Proj  2020  
Atividade Anterior Atual
Agropecuária 2,9 2,9
Indústria 2,9 -0,5
   Extrativa mineral 7,5 2,4
   Transformação 2,1 -1,3
   Construção civil 3 -0,5
   Prod./dist. eletricidade, gás e água 1,6 0,2
Serviços 1,7 0
   Comércio 2,6 -0,7
   Transporte, armazenagem e correio 1,9 -1,2
   Serviços de informação 2,7 2,4
   Interm. financeira e serviços relacionados 1,9 1,4
   Outros serviços 2,2 -1,1
   Atividades imobiliárias e aluguel 1,5 1,1
   Adm., saúde e educação públicas 0,3 0,2
Valor adicionado a preços básicos 2 0,1
Impostos sobre produtos 2,9 -0,2
PIB a preços de mercado 2,2 0
Consumo das famílias 2,3 0,8
Consumo do governo 0,3 0,2
Formação bruta de capital fixo 4,1 -1,1
Exportação 2,5 0,9
Importação 3,8 0,6

 

Sobre o crédito

Os impactos das medidas restritivas contra o covid-19 devem impactar também o mercado de crédito. O relatório de dezembro de 2019 previa uma expansão do saldo de crédito em 2020, de 8,1%. No relatório de hoje a projeção passou para 4,8%.

Para as pessoas físicas as reduções nas estimativas de crescimento no saldo das carteiras passaram de 12,2% para 7,8%. Para as empresas a redução vai de 2,5% no crescimento para 0,6%.

Houve recuo nas expectativas de crescimento das carteiras tanto de recursos livres como recursos direcionados.

No estoque de crédito para pessoas jurídicas com recursos houve redução na projeção de crescimento do segmento de 9,7% para 6,0%. Nos empréstimos com recursos direcionados às empresas, projeta-se retração de 8% do saldo, contra 8,6% de dezembro de 2019. É a carteira com menor expectativa de redução em função das expectativas de empréstimos sinalizados pelo BNDES.

Os empréstimos para pessoas físicas com recursos livres, que apresentavam uma expectativa elevada de expansão (15,4%) foram revistos para 10,0%, com a redução na expectativa de crescimento da economia e seus efeitos sobre o mercado de trabalho. Na carteira com recursos direcionados houve diminuição na projeção de crescimento divulgada em dezembro, de 8,1% para 5,0%.

As novas projeções apontam para um crescimento do estoque total de crédito em 2020 menor do que o ocorrido em 2019 bem inferior à expectativa de dezembro de 2019, principalmente nas operações de crédito com recursos livres, mais sensíveis aos ambientes econômicos mais incertos.

  Var % em 12 meses
  dez/19 mar/20
Total 8,1 4,8
    Livres 12,9 8,2
        PF 15,4 10,0
        PJ 9,7 6,0
   Direcionados 1,6 0,0
       PF 8,1 5,0
       PJ -8,6 -8,0
 Total PF 12,2 7,8
 Total PJ 2,5 0,6