Quando comparado ao restante do país, estado registra crescimento mais acelerado dos empréstimos para pessoas físicas desde 2016

Por Vitor França | Economista da Boa Vista

*Com Flávio Calife, Economista da Boa Vista

O estado de São Paulo apresenta, historicamente, taxas de inadimplência inferiores à média nacional. Considerando apenas as operações de crédito para pessoas físicas, a taxa média no estado entre julho de 2011 e junho de 2019 ficou em 3,8%, contra 4,2% quando são considerados os dados de todo o país, de acordo com o Banco Central.

Desde o início da recuperação – modesta, é verdade – dos empréstimos às pessoas físicas a partir de 2016, nota-se um ritmo de crescimento ligeiramente mais acelerado do saldo das operações de crédito em São Paulo quando comparado ao do saldo de todo o Sistema Financeira Nacional.

Este maior dinamismo do mercado de crédito no estado ajuda a explicar a retomada mais vigorosa do varejo paulista desde o pior momento da crise recente. Enquanto, entre setembro de 2016 – mês em que o setor atingiu seu menor nível de vendas desde o início da crise – e junho de 2019, as vendas do comércio varejista brasileiro cresceram 15,9%, no estado de São Paulo a alta foi de 21%.

O crescimento dos empréstimos no Brasil como um todo, contudo, não foi acompanhado por um aumento proporcional da renda, o que vem resultando tanto no aumento do endividamento quanto do comprometimento da renda das famílias com o pagamento de dívidas.

Em São Paulo, onde os empréstimos cresceram de forma mais acelerada, é provável que o quadro de endividamento também tenha se agravado mais rapidamente, com reflexos que já podem ser notados nos indicadores de inadimplência.

Segundo dados da Boa Vista, no estado, o indicador de registros de inadimplência de consumidores ainda recua no acumulado de 12 meses até junho (-1,2%), mas menos do que o índice nacional, que caiu 3% na mesma base de comparação. Na capital, porém, o indicador já apresenta alta expressiva (6,2%).

Dados da FecomercioSP, de abrangência municipal, vão na mesma direção. Segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), a proporção de famílias endividadas na capital paulista saltou de 51,2% em julho de 2018 para 55,7% em junho de 2019. A parcela de famílias com contas em atraso, por sua vez, passou de 19,6% para 20,2% no período.

No estado, dados do Banco Central mostram que a taxa de inadimplência das operações de crédito para pessoas físicas ainda recua em 12 meses (-0,06 p.p.), mas menos do que a média nacional (-0,12 p.p.). Quando são consideradas todas as operações de crédito (pessoas físicas e jurídicas), por outro lado, já se nota um aumento da taxa de inadimplência em São Paulo (+0,27 p.p.), enquanto, no Brasil, o indicador ainda apresenta queda (-0,11 p.p.).

Em artigo de junho publicado aqui mesmo no Diário do Comércio, já argumentávamos que, ante a frustração em relação à atividade econômica e a lenta recuperação do mercado de trabalho, crescia o risco de que a expansão dos empréstimos resultasse em aumento da inadimplência.

Os dados de São Paulo talvez sejam as primeiras evidências de que o recente – e breve – ciclo de expansão do crédito com redução da inadimplência já esteja próximo do seu limite.

É verdade que medidas aprovadas nos últimos meses, como a inclusão automática dos consumidores do Cadastro Positivo e a criação das Empresas Simples de Crédito, tendem a favorecer a expansão dos empréstimos a médio prazo. O elevado nível de desocupação e subutilização da mão de obra e o fraco crescimento da renda, contudo, seguem como limitadores do aumento do crédito a curto prazo.