Por Yan Cattani e Bruna Martins, da área de Indicadores e Estudos Econômicos da Boa Vista SCPC

Amanhã o Banco Central Europeu (BCE) irá divulgar a decisão sobre política monetária para os países pertencentes à Zona do Euro. Apesar de não haver expectativas com relação à mudança de sua taxa de juros (atualmente fixada em 0,05%), o mercado financeiro especula sobre intensificação do programa de afrouxamento quantitativo concentrado na compra de títulos de dívida pública dos países membros.

O receio do BCE é de que a economia entre em uma espiral deflacionária, uma vez que registrou queda de 0,2% ano passado. Seu objetivo principal, portanto, é dar estímulos adicionais para economia, o que por sua vez deverá aproximar os preços da meta de inflação, de 2%. Porém, ao comprar títulos de dívida pública, o BCE corre o risco de eventuais perdas caso um dos países da Zona do Euro entre em default. Há ainda a discussão sobre considerar como fator de exclusão a qualidade dos ratings dos títulos de alguns países, isto é, países como a Grécia - exemplo mais extremo de finanças públicas em estado crítico - podem acabar sendo excluídos do programa. Outros especialistas apontam as dificuldades de realizar a compra de títulos, uma vez que não se sabe exatamente o montante de recursos a ser utilizado, implicações sobre a heterogeneidade dos 19 mercados pertencentes aos blocos, prazos etc. A complexidade é grande e o desafio é cada dia maior.

Independentemente dos detalhes do plausível programa monetário, um fato já é concreto: uma maior oferta monetária deflagrará, necessariamente, uma mudança na taxa de câmbio do euro com outras moedas internacionais, enfraquecendo ainda mais a moeda europeia. Este fato já foi evidenciado pela recente decisão do Banco Central da Suíça, que na semana passada instituiu o câmbio livre entre o franco suíço e o euro. A moeda mais fraca deverá contribuir para um aumento de exportações do bloco europeu como um todo, aumentando em um segundo momento o nível de atividade e consequentemente a inflação. A medida poderia ter sido tomada há dois anos, mas sempre houve receio das economias mais importantes do bloco, capitaneado pela Alemanha. Com o diagnóstico da deflação, ela torna-se inevitável. E como diria o velho ditado popular, antes tarde do que nunca.