Por Yan Cattani

Ontem, na última reunião do COPOM liderada pelo presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, foi decidido por unanimidade a manutenção do atual nível de juros da taxa básica da economia, a Selic. Está é a sétima decisão consecutiva de estabilidade da taxa, cravada em 14,25%.

Em termos de política monetária, a decisão é coerente: com uma inflação anual perto de 10%, a medida contribui para solidez de longo prazo do sistema financeiro, e assegura a estabilidade do poder de compra da moeda dos cidadãos. Além disso, a Selic também é responsável pela elevação dos juros cobrado ao consumidor em seu endividamento. Só que, se notarmos, há uma grande divergência: tais taxas de financiamento atingem praticamente 70% ao ano nos empréstimos de recursos destinados ao consumo. E o pior, continuam subindo. Afinal, por que isso acontece?

A resposta depende da análise da composição dos juros. Os juros cobrados ao consumidor dependem basicamente de dois componentes, a taxa de captação e o spread. Enquanto o primeiro nada mais é que o custo da entidade financeira entre aplicar o dinheiro em títulos públicos (remunerados direta e indiretamente pela Selic) ou emprestar aos consumidores, os spreads embutem todo tipo de custo, como os custos operacionais dos empréstimos cedidos - desde a parte administrativa e legal, assim como a margem de lucro e, principalmente, riscos.

Com isso, se observarmos a evolução dos spreads, verificamos uma aceleração de seu crescimento nos últimos tempos, refletindo não só as turbulências ocorridas na economia, mas o ambiente político, empresarial etc. Assim, basicamente o que temos é uma manutenção da captação, movimento coerente com a Selic, e uma elevação dos spreads, que consequentemente elevam os juros finais cobrados ao consumidor.

Com a melhoria dos indicadores de confiança na economia apresentada nos últimos 2 meses, possivelmente veremos nas próximas divulgações do BC uma desaceleração do crescimento dos spreads e até mesmo retração dos juros finais destinados ao consumo. Talvez seja, enfim, um alívio à vista.