A Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) de agosto, divulgada hoje pelo IBGE, surpreendeu ao apresentar crescimento das vendas de 1,3% na comparação com julho, já descontados os efeitos sazonais, interrompendo com isto uma sequência de três meses consecutivos de queda. Em relação a agosto do ano passado, o aumento foi de 4,1%.

Os economistas da Boa Vista SCPC, contudo, alertam que, especialmente em períodos afetados por eventos atípicos, como este ano, em que o movimento do comércio foi impactado pela greve dos caminhoneiros e pela Copa do Mundo, dados mensais podem apresentar maior volatilidade, de forma que a análise exige certa cautela.

Na análise da evolução acumulada em 12 meses nota-se certa estabilidade no ritmo de crescimento das vendas desde o início do ano, tendência esta que também já vinha sendo apontada pelo Indicador Movimento do Comércio calculado pela Boa Vista SCPC, conforme é possível observar no gráfico 1.

           Fonte: Boa Vista SCPC

Os economistas da Boa Vista SCPC apontam a lenta recuperação do emprego e da renda como fatores que explicam esta estabilidade no crescimento das vendas do varejo, que neste ano também não contam mais com o impulso da liberação dos recursos FGTS.

Outro ponto destacado pelos economistas é o perfil das vendas, com setores de primeira necessidade apresentando no ano desempenho superior em relação aos de bens duráveis e semiduráveis, perfil que foi observado durante praticamente todo o período da crise recente (2014-2016).

Enquanto as vendas de móveis e eletrodoméstico acumulam queda de 0,8% em 2018 e as vendas de vestuário e calçados, retração de 3,5%, as vendas de ‘Supermercados e hipermercados’ e ‘Farmácias e perfumarias’ cresceram 5,2% e 5,9%, respectivamente, no mesmo período.

Isto parece sinalizar maior cautela dos consumidores, que, neste ano, devido à crescente incerteza, estariam adiando decisões de consumo que envolvam endividamento.

Ao contrário do período recente de crise, porém, hoje não se observam as mesmas restrições que se observavam no mercado de crédito, já que a inadimplência das pessoas físicas caiu de forma significativa nos últimos dois anos. Ou seja, o sistema financeiro apresenta atualmente perfeitas condições de aumentar a oferta de crédito de forma sustentável.

Assim, uma retomada mais vigorosa das vendas do varejo parece condicionada principalmente à recuperação do mercado de trabalho e da confiança dos consumidores, esta, por sua vez, condicionada à capacidade do novo governo de liderar uma agenda de reformas que reduzam as incertezas dos agentes econômicos.