Por Paulo Rabello de Castro e José Valter Martins de Almeida, da RC Consultores

O Banco Central, em decisão inesperada, subiu ontem a taxa básica de juros, a Selic, para 11,25%. É a taxa mais elevada desde novembro de 2011. Segundo o comunicado divulgado, o Comitê de Política Monetária – Copom – considerou oportuno ajustar as condições monetárias para garantir, a um custo menor, um cenário mais benigno para a inflação em 2015 e 2016. Esta é a explicação oficial.

Sob o ponto de vista do controle da inflação, a medida é desnecessária e inoportuna. Desnecessária porque a elevação dos juros para segurar a inflação de demanda proveniente dos incentivos do governo ao consumo já vinha apresentando resultados. Os preços livres, excetuando os serviços, estão rodando a apenas 5,5%, tendendo ao centro da meta, de 4,5%. Por outro lado, os preços dos serviços, que ainda rodam a 8,5% desde dezembro de 2010, pouco respondem à política monetária, visto que são decorrência dos 60 milhões de contra-cheques/mês emitidos pelo governo central. As despesas do governo, fora de controle, estas sim continuam pressionando a demanda. Os juros altos, além disso, não controlam gastos públicos nem o excesso de demanda pelo governo. Pelo contrário, elevar mais o juro significa aumentar o problema pelo lado da despesa financeira para rolar a dívida pública, problema que Dilma visava combater no início deste seu primeiro mandato. Tudo voltou à estaca zero. Inoportuna porque a elevação dos juros vai acentuar ainda mais uma desaceleração econômica já em curso sem efeito prático sobre os preços. Se o BC elevou a Selic para reconquistar sua credibilidade, agiu demonstrando o contrário, já que esperou o final do ciclo eleitoral para tomar a medida impopular. Outra hipótese seria a administração do câmbio. O risco país subiu 20% nos últimos 60 dias. O câmbio, no mesmo período, desvalorizou 10%. A subida dos juros pode impedir uma maior desvalorização do câmbio.