Por Paulo Rabello de Castro e José Valter Martins de Almeida, da RC Consultores

O Banco Central russo, numa decisão que surpreendeu os mercados, subiu os juros em 6,5 pontos percentuais para 17% ao ano. É a maior subida de juros desde 1998, ano em que o Kremlin decretou a moratória e desvalorizou o rublo. O objetivo do BC russo foi proteger a moeda, que já se desvalorizou 75% desde o início do ano. A economia russa está fragilizada pelo impacto das sanções ocidentais em resposta ao conflito ucraniano e pela queda acentuada dos preços do petróleo que, juntamente com o gás, representa cerca de metade das receitas do país. Segundo o Banco Central russo, a economia do país deve se contrair 4,7% no próximo ano se o preço do petróleo se mantiver no entorno dos US$ 60 por barril.

A desvalorização do rublo não é fato isolado, embora, por diversos motivos, seja a moeda que mais se desvalorizou este ano. A recuperação americana e a especulação sobre uma possível alta dos juros pelo Fed foram suficientes para levar o dólar a subir diante das principais moedas. O Real já se desvalorizou mais de 15% este ano. O BC brasileiro vinha contendo a alta do dólar através dos leilões diários de swap, cujo estoque já atinge algo em torno de US$ 100 bilhões. No entanto, desde o início de dezembro esses leilões não têm conseguido controlar a alta. O BC já começou a usar os juros para proteger o Real. Embora a ata do Copom indicasse a preocupação com a inflação, o verdadeiro objetivo da alta de 0,5 ponto percentual este mês foi a desvalorização do real. Não será surpresa se o BC tiver que subir os juros além do programado. A diferença entre o Brasil e a Rússia, quando ambos usam os juros para proteger a moeda, é que lá o aumento é pontual. Aqui, os juros ficam elevados por tempo indeterminado. De fato, há vinte anos o Brasil pratica juros “anormais”.