Por Bruna Martins e Flávio Calife, da área de Indicadores e Estudos Econômicos da Boa Vista SCPC.

Um dia após o rebaixamento da classificação de risco da Petrobras, os agentes econômicos começam a juntar os pedaços das consequências que vem por aí. A empresa tenta correr atrás do prejuízo ao antecipar para março a publicação auditada de seu balanço de 2014 com o objetivo de evitar a antecipação do pagamento de dívidas. Neste momento, a credibilidade dos dados é mais importante do que o próprio resultado da companhia. A publicação precisa dimensionar com transparência o tamanho das baixas contábeis referentes às denúncias de corrupção da Operação Lava Jato. Desafio ainda maior será convencer o mercado de que a empresa não vai mais ser usada politicamente.

Mas a publicação não é uma panaceia. O elevado endividamento da empresa é um problema real e sem solução imediata. A nova diretoria terá que avançar em um plano de redução da alavancagem e geração de fluxo de caixa no curto prazo, provavelmente com cortes de investimentos e vendas de ativos. Mas a retomada do grau de investimento deve levar tempo, já que a empresa precisa evidenciar a geração de fluxos de caixas positivos para os próximos anos.

Como alternativa emergencial, o governo propôs que os bancos públicos se prontifiquem a realizar um novo empréstimo de até R$ 6 bilhões para reforçar o caixa neste momento de alta instabilidade dos negócios. Isso deve aumentar ainda mais a exposição dos bancos brasileiros aos créditos concedidos à estatal, que já superam R$ 40 bilhões. A medida fatalmente os levará a aumentar suas provisões para devedores duvidosos nos próximos períodos, comprometendo seus resultados futuros.

A situação da Petrobras prejudica também a imagem do país e dificulta a captação de recursos no exterior pelas empresas brasileiras. Os riscos aumentam, os recursos escasseiam e as taxas de juros sobem, adiando os investimentos. A empresa precisa mesmo de uma chacoalhada. Para se ter uma ideia, a Petrobras está à frente de apenas duas petrolíferas avaliadas pela Moody’s: a estatal argentina YPF e estatal venezuelana PDVSA.