Por Marcel Caparoz, da RC Consultores

O Banco Central divulgou ontem os números do setor externo brasileiro para o mês de agosto, destacando o contínuo processo de deterioração do saldo das transações correntes, cujo déficit atingiu US$ 80,6 bilhões no acumulado em 12 meses encerrados em agosto, proporcional a 3,6% do PIB, acima do valor de 3,5% que o próprio Tombini julga como sendo “manejável”. A Balança Comercial, embora tenha registrado superávit de US$ 1,13 bilhão no mês, acumula no ano déficit de US$ 3,85 bilhões, com expectativa de fechar o ano com saldo positivo de apenas US$ 2 bilhões, o pior resultado desde 2000, quando houve déficit de US$ 0,7 bilhão. Os investimentos estrangeiros diretos (IED) tiveram saldo positivo (US$ 3,8 bilhões em agosto), acumulando em 12 meses saldo de US$ 61,1 bilhões, valor 7% inferior ao registrado no mesmo período de 2012.

Este patamar de déficit nas transações correntes já é semelhante aos observados na década de 90, período de grande instabilidade econômica e de constantes crises cambiais no país. Obviamente que a situação atual da nossa economia é muito melhor que a registrada no passado, visto que hoje gozamos de relativa confiança internacional e podemos contar com a entrada de recursos externos para cobrir o rombo nas contas. No entanto, tal conjuntura de deterioração das contas externas, fruto, dentre outros motivos, da necessidade de poupança externa do país, irá impactar o processo de determinação do câmbio no médio prazo, contribuindo para uma desvalorização futura do real. No curto prazo, a cotação do real continuará sendo determinada pelo nível de liquidez, com o mercado e o BC “duelando” diariamente nos pregões.

Ed.278